cover
Tocando Agora:

Blitz oscila ao abordar músicas alheias no álbum ‘Nudusoutros’ e termina ao redor do próprio umbigo no fim do disco

A banda Blitz grava músicas como ‘Sentado à beira do caminho’ e ‘Pingos de amor’ no álbum ‘Nudusoutros’ Lyra Jr. / Divulgação ♫ OPINIÃO SOBR...

Blitz oscila ao abordar músicas alheias no álbum ‘Nudusoutros’ e termina ao redor do próprio umbigo no fim do disco
Blitz oscila ao abordar músicas alheias no álbum ‘Nudusoutros’ e termina ao redor do próprio umbigo no fim do disco (Foto: Reprodução)

A banda Blitz grava músicas como ‘Sentado à beira do caminho’ e ‘Pingos de amor’ no álbum ‘Nudusoutros’ Lyra Jr. / Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: Nudusoutros Artista: Blitz Cotação: ★ ★ 1/2 ♬ No fim de 1985, as saídas de Ricardo Barreto e Márcia Bulcão sinalizaram que o fim da Blitz estava próximo. De fato, em março de 1986, foi anunciada a dissolução da banda que abrira portas no verão de 1981 / 1982 para o rock brasileiro, mas que já vinha sofrendo com os desgastes do repertório e da convivência entre os integrantes. A Blitz poderia ter permanecido como boa lembrança daquele novo começo de era do pop nacional. Mas, em 1994, Evandro Mesquita – vocalista, mentor e líder resistente do grupo carioca – reativou a Blitz, que nunca mais saiu de cena e, justiça seja feita, tentou renovar o repertório com álbuns de músicas inéditas como Línguas (1997), Eskute Blitz (2009), Aventuras II (2016) e Supernova (2023), sempre com nostalgia da modernidade dos tempos em que a banda injetou frescor no pop brasileiro. Nudusoutros – álbum lançado hoje, 2 de julho, em edição da gravadora Biscoito Fino – é trabalho de intérprete que oscila por escolhas equivocadas de repertório. Logo na abertura, a abordagem da existencialista canção Sentado à beira do caminho (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) resulta equivocada porque o canto de Evandro e o arranjo (conduzido pelo naipe de metais do Baile do George Israel) dissipam a melancolia e o sentimento de inadequação que brotaram na voz de Erasmo Carlos (1941 – 2025) na gravação lançada em maio de 1969 com extraordinário sucesso. Na sequência, Pingos de amor (Paulo Diniz e Odibar, 1971) cai com leveza condizente com a atmosfera dessa canção – lançada pelo cantor pernambucano Paulo Diniz (1940 – 2022) – enquanto o samba Nega Dina (Zé Ketti, 1965) é trazido para salão de gafieira pelo sopro do trombone de Marlon Sette. Já Solidão galopante (Pedroca Monteiro, 2020) evoca tudo, menos solidão, no arranjo que evolui no balanço do reggae. E o que dizer de Sujeito de sorte (Belchior, 1976)? Evandro Mesquita é cantor vocacionado para registros suaves, e leveza é tudo o que não há no cancioneiro angustiado de Belchior (1946 – 2017). Sem falar que a necessidade de inserir os vocais de Andrea Coutinho e Nicole Cyrne, recorrentes no álbum, por vezes vai contra a natureza das canções. Contudo, os vocais até cabem bem no registro ruralista de Um sonho (Gilberto Gil, 1978), faixa em que sobressai o toque da viola de Miltinho Edilberto. A lembrança da música é oportuna em tempos em que se impõe a urgência de luta por mundo sustentável em que é preciso ajustar a máquina da economia às necessidades ambientais. Já Colhendo lírio é colagem de temas tradicionais de religiões de matriz afro-brasileira que soa mais curiosa do que imponente, até pela ausência de percussão no arranjo. Em contrapartida, o arranjo do funk Ondas da noite (Evandro Mesquita, Ricardo Barreto e Bernardo Vilhena, 1997) – lançado pela própria Blitz no já mencionado álbum Línguas – ganha o apropriado toque do grupo paulistano Funk Como Le Gusta. Ainda ao redor do próprio umbigo, a Blitz recicla o primeiro e memorável sucesso da banda, Você não soube me amar (Evandro Mesquita e Luiz Augusto Nascimento Barros e Ricardo Barreto, 1982), em versão jazzy produzida e arranjada por David Gomes. Parceria da Blitz com a DG3, a gravação arremata o álbum Nudusoutros como faixa-bônus, em mais uma prova de que todos os caminhos da Blitz dão naquele single renovador do verão de 1982 que contribuiu para mudar a história do rock brasileiro. Capa do álbum ‘Nudusoutros’, da Blitz Divulgação