Existe alguém que não goste de João Gomes? Cantor foi de aposta do piseiro a queridinho do Brasil
Piseiro pode ficar internacional? João Gomes responde Seis anos foi o tempo que João Gomes passou de cantor da turma na faculdade para o atual queridinho da m...
Piseiro pode ficar internacional? João Gomes responde Seis anos foi o tempo que João Gomes passou de cantor da turma na faculdade para o atual queridinho da música nacional. Em 2019, ele cursava agropecuária no Instituto Federal do Sertão Pernambucano, em Petrolina (PE), e cantava forró entre amigos. Dois anos depois, aos 19, subiu ao palco pela primeira vez: surfou a onda do piseiro, que havia estourado durante a pandemia. Com ele, vieram outros nomes do ritmo, como Tarcísio do Acordeon e Barões da Pisadinha. Mas João seguiu em alta mesmo depois da queda do piseiro nas rádios e plataformas de streaming. O sucesso de “Meu pedaço de pecado” e a repercussão de “Dengo” (regravada por Maria Maud e incluída na trilha da novela "Travessia", em 2023) ajudaram a consolidar o nome do cantor. Ainda em 2021, João se surpreendeu com o salto de seguidores nas redes sociais: de 10 mil para 2,5 milhões. Hoje, soma mais de 16,4 milhões. Mas a trajetória de João não se resume aos números. Aos 23 anos, ele já não é mais visto apenas como “um artista do piseiro”. Ele se consolidou como artista — ponto. Respeitado por estrelas de diversos gêneros, incluindo medalhões da MPB, talvez os mais difíceis de conquistar e agradar. João Gomes posa para fotos antes de ser entrevistado no programa g1 Ouviu, no estúdio do g1 em São Paulo Fábio Tito/g1 “Na minha visão muito ligada à MPB, acho que o turning point [ponto de virada] dele talvez tenha sido quando Vanessa da Mata o convidou para gravar Belchior, em ‘Comentário a respeito de John’, no disco Vem Doce, lançado em 2023”, analisa o crítico musical Mauro Ferreira. “A gente precisa ressaltar que o universo da MPB é elitista. Ouvintes, artistas, empresários e produtores, de antemão, já tendem a rejeitar o sertanejo, o piseiro e esses ritmos mais populares e massivos. Então, ali, acho que a Vanessa abriu uma porta para o João”, completa o crítico. Mas o respeito por João Gomes não fica restrito aos astros da MPB. Prova disso é o meme que começou a circular mostrando que o cantor agrada a todos os públicos. Existe alguém que não gosta de João Gomes? Reprodução/Instagram "Ele é uma pessoa que não tem negativa. Não tem alguém que seja contra. Pode ter quem não goste [da música], mas ser contra ele, é um negócio muito difícil", aponta o produtor Daniel Mendes, parceiro de composição de várias músicas de Gomes. Muitos feats e projetos Além de Vanessa da Mata, João já gravou com gigantes como Gilberto Gil e Lulu Santos. Caetano Veloso também o elogiou. E Marisa Monte — que raramente faz parcerias — foi para o estúdio com o artista e o apelidou de “Arnaldo Gomes”, em referência a Arnaldo Antunes, seu grande parceiro musical, por causa da voz grave e marcante do pernambucano. “A gente sempre buscou fazer parcerias sem se limitar. Tem feat com o padre Marcelo Rossi, com Gilberto Gil, com Raquel dos Teclados, com o grupo Menos é Mais... A gente abraça tudo mesmo. Sendo do nosso gosto, sendo bom e nos fazendo feliz, a gente vai atrás dessas parcerias. E, naturalmente, João foi sendo muito abraçado por esse público mais cult, ligado à MPB e afins”, diz o produtor Daniel Mendes. Projeto 'Dominguinho' reúne João Gomes, Mestrinho e Jota Pê Divulgação No início de 2025, João lançou o projeto Dominguinho, em parceria com Jota.Pê e Mestrinho. O álbum, que nasceu de forma despretensiosa, acabou ganhando turnê e indicações em premiações. Por toda sua trajetória, João foi o escolhido para estrear a versão brasileira do Tiny Desk Concert, no início de julho. “João Gomes tem uma sonoridade que cria pontes entre a tradição e o futuro da música brasileira. A escolha dele para estrear o projeto no Brasil se deu porque a essência do formato é justamente essa: dar luz a artistas relevantes e autênticos, que representam a riqueza da nossa música”, diz Barbara Teixeira, produtora executiva do Tiny Desk Brasil. Antes da apresentação, João disse a uma amiga que estava “indo ali fazer história”. E é isso que o cantor tem feito. E deve fazer, mais uma vez, com a gravação de seu próximo álbum, que será gravado neste domingo (26). João Gomes se apresenta no Tiny Desk Brasil Divulgação O cantor saiu da rota habitual do forró e escolheu o Rio de Janeiro para a apresentação, que será aberta ao público, nos Arcos da Lapa. O local já foi palco de muitos projetos de samba e pagode. “Eu acho que ele já tem tido anos maravilhosos. Mas, de repente, com essa gravação, que provavelmente será lançada em 2026, pode ser o ano de uma explosão em termos massivos. Ele está caminhando para ter a mesma dimensão de uma Ivete Sangalo, mas talvez ainda falte um pedaço desse caminho. Acredito que ele pode completar em 2026 e se tornar realmente uma unanimidade entre público, artistas e críticos. Ele está muito perto disso”, analisa Mauro Ferreira. Para o projeto audiovisual, João receberá Zeca Pagodinho, Ivete Sangalo, MC Cabelinho e Ruan Vitor Vaqueirinho. Antes da gravação, João enfrentou, talvez, sua primeira polêmica: nas redes sociais, fãs criticaram a escolha do local e pediram a transferência da festa para um espaço maior. O motivo apontado por muitos reforça o fenômeno João Gomes: “O local é muito pequeno para um artista como você”, escreveram os fãs. Padrão de gente grande Confira horários e detalhes do acesso para o show beneficente de João Gomes em Petrolina Divulgação/Ascom PMP Outros pontos a favor de João Gomes são o carisma e a manutenção de suas raízes. Enquanto modernizou seu som, não abandonou o chapéu de couro nem sua história. Recentemente, viralizou um vídeo do artista em que ele reverencia uma antiga professora e se emociona ao vê-la em um de seus shows, em Petrolina. Além disso, escolheu a casa de sua avó, na cidade onde nasceu, em Serrita (PE), para gravar seu álbum mais recente. Nas redes sociais, alguns fãs brincaram: “Se alguém souber de algo ruim sobre João, não me conte”. “Hoje, mesmo que o artista seja refratário nas redes sociais, ele está sendo vigiado. É tudo um grande Big Brother, e eles estão muito na mira”, comenta Mauro Ferreira, ao falar sobre o fato de João não se envolver em polêmicas na vida pessoal ou profissional. “Tem que aplaudir porque, até agora, João conseguiu driblar isso. Pelo temperamento dele, eu acho que ele vai bem. Ele é um cara realmente centrado, já estourou o suficiente para dar algum sinal”, completa o crítico. João Gomes se emociona ao rever professora Outros fatores que definem grandes artistas são o domínio de palco e a arte do improviso. João não costuma ter setlists muito definidos em seus shows. “Ele vai seguindo”, contou um dos membros da equipe de sua assessoria. E não é exagero: no show do projeto Dominguinho, em São Paulo, o artista pegou Mestrinho de surpresa ao pedir uma faixa que não estava no roteiro. Não há mais dúvidas de que João tem talento e a “estrela”, como dizem no mercado musical. Mas ele não está sozinho. O artista conta com uma equipe que faz um trabalho 360 graus, sendo amparado por todos os setores, incluindo assessoria de imprensa e time comercial. “O fato de ele ter um empresário muito agressivo, que sabe escolher bem os palcos, faturar na hora certa, mas também saber a hora de frear para tocar num palco legal e espalhar a mensagem, é fundamental nesse resultado”, analisa Daniel Mendes. Além disso, João conta com uma pessoa para cuidar de suas redes sociais — mesmo que goste de centralizar tudo e tenha dificuldade em delegar essa função. “Conseguir ter o aval dele para dividir a rede social é uma coisa muito difícil, porque ele controla tudo o que é postado ali”, revela Daniel. O artista está sempre cercado por seu produtor pessoal, segurança, videomaker e fotógrafo. “Ele só vai para os lugares com essas quatro pessoas”, diz o produtor. O papel do produtor mudou ao longo da trajetória de João: “Eu sinto que meu trabalho era mais determinante, de delegar o que seria feito. Hoje, percebo que ele aspira muitas coisas, e meu trabalho ficou como se fosse a linha de uma pipa. Ele é a pipa, e eu preciso deixar ele voar, segurando.” E essa pipa chamada João voa muito, Daniel? “Muito! Para o artista, tudo é palpável. Ele enxerga tudo como muito simples, ainda é muito garotão. Então, ele tem a ideia, quer fazer, vai, dá um jeito. E na maioria das vezes, dá certo. A estrela dele brilha, e ele resolve.”